31 de maio de 2012

Compreensão (ou falta de) do idioma, parte 2

Vou contar mais uma outra história do alemão e aproveitar para responder o comentário da srta Kau.
Sim, eu fiz muitos anos de Goethe Institut, mas isso não quer dizer que eu deva automaticamente falar alemão. A língua ensinada nas escolas de idioma é o alemão padrão (o português padrão seria o português falado no jornal nacional, por exemplo). Eu entendo perfeitamente as pessoas que falam alemão padrão, a menos que elas usem palavras que eu realmente não conheço. Algumas pessoas falam esse hochdeutsch (os professores, as pessoas que trabalham com guia de turismo e algumas outras). Mas outras pessoas falam dialetos. Na Alemanha inteira existem diversos dialetos. As palavras são pronunciadas diferentes, existem outros vocabulários e etc que deixam a língua incompreensível para os próprios alemães de outra região. Aqui em Berlim o dialeto é o Berliner, mas também tem outros, porque aqui tem pessoas de várias partes da Alemanha (e do mundo). Como mencionei no post anterior, eu ainda não consigo indentificar quando as pessoas estão falando um dialeto que não é para eu entender mesmo, ou quando eu deveria entender e não consegui.

Além disso, tem pessoas que não tem a pronúncia clara, independente que qual variante da língua elas falem. Estudar no Brasil não ajuda nesse sentido, porque escuto praticamente só os professores falando, e eles eu entendo muito bem. Sem contar que eu fui muito relapsa nos meus estudos no quesito estudar vocabulário. Quando aprendi inglês eu sinceramente quase nunca estudei vocabulário. Você entra em contato com as palavras no dia-a-dia, em músicas, filmes, livros, e tem muitas, mas muitas, palavras que vêm do latim, então dá para falar uma palavra do seu repertório em português e ainda acertar. No alemão não é bem assim. Ok, tem várias palavras do latim também e tal, mas não dá para dar esse embromation igual no inglês. E eu preciso muito estudar vocabulário. Tenho um livrinho de palavras que eu mesma escrevo desde o Goethe, mas ele fica na maioria das vezes juntando pó. Aqui juro que estou tentando deixá-lo atualizado e estudar. Não dá muito tempo. Mas quando dá, eu percebo a diferença.

Mas hoje houve uma situação em que senti uma esperança linguística (hahaha)! O sr. Heinz mora aqui no meu prédio. Ele é amigo da minha Gastmutter e vive aqui na casa dela. Foi ele que me acompanhou até o metro e me ensinou a ir até a escola no primeiro dia, porque minha Gastmutter não pode andar muito a pé por motivos de saúde. O problema é o seguinte: ele adora falar. Tanto ele como ela me vêem e já começam a falar alguma coisa. Nesse primeiro dia o Heinz monologou sobre diversos assuntos, dos quais não entendi uma palavra. Ficava até nervosa quando via que ele tinha me feito uma pergunta (o que eu ia responder?), e me dava até um frio quando via que ia ter que encontrar ele. Ok, eu não entendo tudo que minha Gastmutter fala, mas ele era de matar. Ela mesma me disse que de vez em quando não entende o que ele fala, e manda ele ir passear porque ele está enchendo o saco.

Hoje voltei mais cedo para casa por causa da academia e lá estava Herr Heinz triunfante na sala. Ele já morou no Brasil há sei lá quantos mil anos atrás, na época em que trabalhava numa empresa. Por isso desde que me viu ele fica contando caso. O dia que o avião dele chegou em Belo Horizonte, o dia que o chefe dele o levou para comer rodízio e feijoada e etc. No meio disso tem diversas palavras em português que eu tenho que penar para entender (hoje ele me falou, sem contexto nenhum, "martelo" e "chave de venda" - que gerou uma discussão até ele entender que é "fenda" e não "venda", e que fenda é com f).

Enfim! Heinz hoje resolveu me mostrar o mapa do estado de São Paulo, com a divisão dos municípios, que ele comprou no Brasil em 2002, para eu mostrar a ele onde era Cotia. Ai entramos numa discussão sobre a feira da arte no Embu, o sotaque de Sorocaba, Ribeirão Preto, Ouro Preto, Salvador quando era a capital do Brasil, que Curitiba é a cidade dos alemães (ele insiste que Curitiba fica em Santa Catarina e que Brasília fica em Minas), o aeroporto que em que ele chegou numa cidade ao lado de Ribeirão, a praia do Guarujá. Depois passou para os cortes de carne no rodízio (e explicar para a Frau John o que é rodízio), cupim (que ele falou "gukin"), a linha 3 do metrô de São Paulo que tem uma parte aberta (e ele insiste que é a linha inteira), que Santo Amaro e a zona norte são habitados por alemães, a Liberdade, a feira de domingo na praça da República, a al. Pamplona, que o autódromo de Interlagos fica num lugar do mapa onde eu tenho certeza que é o Brooklin.

Pois é, eu fiquei uma hora discutindo com o heinz em alemão sobre coisas que eu tenho certeza que sei e que ele acha que sabe. Quando ele foi embora a Frau John disse que ele é um velho sabe tudo e que você não pode contrariar! haha. O que interessa é que eu entendi quase tudo o que ele falou quando estava se dirigindo a mim. Continuo achando a pronúncia difícil, o assunto e o mapa ajudaram, mas alguém ai notou uma melhora no meu alemão?

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